Nos últimos dias os museólogos andam agitados. Em cerca de 100 palavras ou pouco mais de 600 caracteres, o Conselho Geral do ICOM propôs à comunidade museológica a revisão do atual conceito, que salvo erro data de 1985.
Sobre este conceito tem vindo a publico várias críticas a este conceito, que ontem publicamos, e que pode ser revisto no site o ICOM em : https://icom.museum/en/activities/standards-guidelines/museum-definition/
Algumas destas críticas prendem-se com a ausência sentida duma referencia mais explicita à Função Educativa dos Museus e uma certa diluição da sua figura organizacional, enquanto instituição.
Vários comités nacionais e de trabalho tem vindo a público solicitando o adiamento da votação prevista para os inícios de setembro, em Kyoto, na Assembleia Geral do ICOM.
Independentemente dos vários argumentos mobilizados, que muitas vezes confundem elementos de processos sociais com a teoria social esta é um discussão kafkiana.
É certo que o conceito de museus tem vindo a variar, no tempo. Nem sempre o conceito foi o mesmo, e nem sempre será o mesmo. Há uma certa natureza normal na mudança, quando as definições deixam de responder às realidades. É natural que o pensamento queira capturar o real, traduzindo-o, delimitando-o, procurando condicionar o seu alcance.
Também sabemos que entre o ser ou o não ser Museu,de delegadiam vários poderes simbólicos na sociedade.
Mas a questão é mesmo essa. Tal como qualquer instituição social, os processo definem-se pelo que fazem e não pelos nomes. Quando estamos doentes vamos ao hospital, quando queremos aprender vamos à escola, quando apresentamos queixa crime, vamos à esquadra da polícia. Quando vamos ao museu vamos fazer o quê ?
Esta é uma questão difícil de responder, mas talvez ajude a compreender alguma inutilidade dum debate sobre uma suposta essencialidade distitntiva da organização que este debate procura.
O que encontramos nos museus, é o património. O que fazemos com o património é a arte de fazer museus.
Definir uma coisa como sendo tudo, acaba por não se definir nada. É isso que acontece com a história da definição de «museu». Acrescentaram-lhe tantas coisas, tantas palavras, tantas agendas ideológicas, tantos dislates… que acabaram por saturar (esgotar, assassinar) a possibilidade de uma definição. A solução, para casos destes, é-nos indicada na Lógica (pelos “tipos lógicos” de Whitehead & Russel em “Principia Matematika”): mudar de paradigma. Deixar o «museu» e orientarem-se pelo «Património», tal como propõe o meu Amigo, Pedro Pereira Leite. Foi por essa razão que publiquei o “Léxico de Patrimologia” (em 2014), e propus que o ICOM se passasse a chamar “Conselho Internacional do Património” (em 2004). Infelizmente, como lhe competia, o ICOFOM foi incapaz de conceptualizar e formular essa mudança de paradigma. Para que esta mudança conceptual aconteça são necessárias três tarefas: i) (re)Descrever empiricamente o «ciclo de vida de um Objeto», de modo a integrar os novos contributos da cognição (neurociências) e o contínuo entre os «objetos it» e os «objetos bit» (a heptadimensionalidade do atual conceito de Objeto e de realidade), ii) Adptar uma equação que defina e defina o exercício da Gestão do Património em contexto museal, iii) Definir um novo «Léxico de Patrimologia», para estabelecer a relação de interdependência entre os conceitos e definições usados na gestão do património.
Pedro Manuel-Cardoso
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